Trinta e um mineiros recebem alta em hospital de Copiapó; apenas 2 continuam internados.
Marina Motomura
Enviada especial do UOL Notícias
Em Copiapó (Chile)
Em entrevista coletiva no final da tarde desta sexta-feira (15), a diretora do Serviço de Saúde do Atacama, Paola Neumann, afirmou que 31 dos 33 mineiros que estavam internados no Hospital Regional de Copiapó já tiveram alta, sendo três ontem e o restante hoje. Os médicos não confirmaram os nomes dos mineiros que já foram liberados e dos que permanecem internados alegando a preservação de privacidade.
O bairro de João Paulo II fez festa para receber o mineiro Carlos Mamani ontem
Os dois últimos mineiros que ainda não tiveram alta serão transferidos para a sede da Associação Chilena de Segurança para que tenham sua situação monitorada. Segundo os médicos, eles não têm quadros graves, mas ainda necessitam de cuidados leves, e não da complexidade de um hospital.
Ontem, tiveram alta Carlos Mamani, Edison Peña e Juan Illanes. Segundo as rádios chilenas, um dos pacientes que seguirá internado é Mario Gomez, mas os médicos não confirmam a informação.
Primeiras altas
Entre os primeiros a ser liberado do hospital, Peña foi recebido ontem por curiosos e jornalistas. “Estou bem, estou super saudável, por isso sou um dos três primeiros a sair”, disse. “Obrigada por acreditarem que estávamos vivos.”
Peña é o mineiro que ganhou o apelido de “Forrest Gump”. Apaixonado por esportes, ele chegou a correr 10 quilômetros em um dia dentro da galeria subterrânea da mina, apesar dos limites espaciais. Durante o período de isolamento, chegou a pedir sapatilhas e short esportivo para poder correr melhor.
Já a família de Carlos Mamani, ao saber mais cedo da alta, anunciou que iria recebê-lo com um churrasco. “Estamos preparando um churrasco com muita carne, assada no carvão”, afirmou o sogro de Mamani, Jhony Quispe, ao jornal “El Mercurio”.
O bairro de João Paulo II, um dos mais pobres e violentos de Copiapó, também fez festa na noite de quinta-feira para receber Mamani. “Bem-vindo ao nosso humilde lar”, dizia um cartaz na simples casa de barro, onde o mineiro, de 23 anos, mora.
“Viemos para celebrar esse milagre de Deus. É uma emoção muito grande”, afirma Viviana Piña, uma vizinha do mineiro, que junto a outras 30 pessoas, em sua maioria bolivianos, esperava por Mamani.
Quando o carro com o mineiro chegou, ele, ainda usando os óculos escuros recomendados pelos médicos, ficou surpreso com a recepção. “Estou bem, estou bem”, repetiu aos jornalistas que o cercavam.
Mamani foi obrigado a forçar a passagem para entrar em casa, onde era esperado pela esposa e a filha de um ano, além dos familiares vindos da Bolívia.
Juan Illanes, 52, ex-militar, foi o terceiro resgatado na operação. Casado, ele é veterano do conflito fronteiriço entre Chile e Argentina em 1978. No trajeto para casa, Illanés compartilhou seu sonho futuro: “A verdade é que quero ir para Miami. O confinamento foi horrível. Os primeiros 17 dias foram um pesadelo. Depois, tudo mudou”, contou. “Pouco a pouco fomos nos organizando, e sentíamos o apoio vindo de fora. E, perto do final, tudo que queríamos era sair”.
Para ele, a experiência na mina foi “muito proveitosa” e desde então “tudo isso tem sido incrível”. Illanes, um eletromecânico, que celebrou seu aniversário dentro da mina, foi, segundo testemunhos, quem mais injetou otimismo e bom humor a seus companheiros.
“Tínhamos que passar por algo assim para mostrar como trabalham os mineiros”, observou, num momento de reflexão. “Se não tiver remédio, vou continuar trabalhando como mineiro. Se tiver que sobreviver, farei isso. Mas se puder viver de outra coisa qualquer, deixarei as minas. É muito duro”, contou.